quinta-feira, 31 de março de 2011

I Concurso de Leitura online - 2ª fase

Frei Genebro

Do fundo da choça rude, que mais parecia cova de bicho, veio um lento gemido:Quem me chama? Aqui, neste canto, neste canto a morrer!... A morrer, meu irmão! Frei Genebro acudiu em grande dó; encontrou o bom ermitão estirado num monte de folhas secas, encolhido em farrapos e tão definhado que sua face, outrora farta e rosada, era como um pedaço de velho pergaminho, muito enrugado, perdido entre os flocos das barbas brancas. Com infinita caridade e doçura, o abraçou. E há quanto tempo, há quanto tempo, neste abandono, irmão Egídio? Louvado Deus, desde a véspera! Só na véspera, à tarde, depois de olhar uma derradeira vez para sol e para a sua horta, se viera estender naquele canto para acabar... Mas havia meses que com ele entrara um cansaço, que nem podia segurar a bilha cheia quando voltava da fonte. E dizei, irmão Egídio, pois que o Senhor me trouxe, que posso fazer eu pelo vosso corpo? Pelo corpo, digo; que pela alma bastante tendes vós feito na virtude desta solidão! Gemendo, arrepanhando para o peito as folhas secas em que jazia, como se fossem dobras dum lençol, o pobre ermitão murmurou: Meu bom frei Genebro, não sei se é pecado, mas toda esta noite, em verdade vos confesso, me apeteceu comer um pedaço de carne, um pedaço de porco assado... Mas será pecado? Frei Genebro, com a sua imensa misericórdia, logo o tranqüilizou. Pecado? Não, certamente. Aquele que, por tortura, recusa ao seu corpo um contentamento honesto, desagrada ao Senhor! Não ordenava ele aos seus discípulos que comessem as boas coisas da terra? O corpo é servo; e está na vontade divina que as suas forças sejam sustentadas, para que preste ao espírito, seu amo, bom e leal serviço. Quando Frei Silvestre, já tão doentinho, sentira aquela longo desejo de uvas moscatéis, o bom Francisco de Assis logo o conduziu à vinha, e por suas mãos apanhou os melhores cachos, depois de os abençoar para serem mais sumarentos e doces... É um pedaço de porco assado que apeteceis? – exclamava risonhamente o bom Frei Genebro, acariciando as mãos transparentes do ermitão – Pois sossegai, irmão querido, que bem sei como vos contentar- E imediatamente, com os olhos a reluzir de caridade e de amor, agarrou o afiado podão que pousava sobre o muro da horta. Arregaçando as mangas do hábito, e mais ligeiro que um gamo, porque era aquele um serviço do Senhor, correu pela colina até os densos castanheiros onde encontrara o rebanho de porcos. E aí, andando sorrateiramente de tronco para tronco, surpreendeu um bacorinho desgarrado que fossava a bolota, e desabou sobre ele, e enquanto lhe sufocava o focinho e os gritos, decepou, com dois golpes certeiros do podão, a perna por onde o agarrava. Depois, com as mãos salpicadas de sangue, deixando a rês a arquejar numa poça de sangue, o piedoso homem galgou a colina, correu à cabana, gritou dentro alegremente: Irmão Egídio, a peça de carne já o Senhor a deu! E eu, em Santa Maria dos Anjos, era bom cozinheiro. Na horta do ermitão arrancou uma estaca do feijoal, que, como podão sangrento, aguçou em espeto. Entre duas pedras acendeu uma fogueira. Com zeloso carinho assou a perna do porco. Era tanta a sua caridade que para dar a Egídio todos os antegostos daquele banquete, raro em terra de mortificação anunciava com vozes festivas e de boa promessa: Já vai aloirando o porquinho, irmão Egídio! A pele já tosta, meu santo! Entrou enfim na choça triunfalmente, com o assado que fumegava e rescindia, cercado de frescas folhas de alface. Ternamente ajudou a sentar o velho, que tremia e se babava de gula. Arredou das pobres faces maceradas os cabelos que o suor da fraqueza empastara. E, para que o bom Egídio não vexasse com a sua voracidade e tão carnal apetite, ia afirmando enquanto lhe partia as febras gordas, que também ele comeria regaladamente daquele excelente porco se não tivesse almoçado à farta na Locanda dos três Caminhos! Mas nem bocado agora me podia entrar, meu irmão! Com uma galinha inteira me atochei! E depois uma fritada de ovos! E de vinho branco, um quartinho! E o santo homem mentia santamente – porque, desde madrugada, não provara mais que um magro caldo de ervas, recebido por esmola à cancela de uma granja. Farto, consolado, Egídio deu um suspiro, recaiu no seu leito de folha seca. Que bem lhe fizera, que bem lhe fizera! O Senhor, na sua justiça, pagasse a seu irmão Genebro aquele pedaço de porco!... E o ermitão, com as mãos postas, Genebro ajoelhado, ambos louvaram, ardentemente, o Senhor que, a toda necessidade solitária, manda de longe o socorro.
Assinala se as afirmações são verdadeiras ou falsas.

1. O irmão Egídio vivia numa cabana agradável.

2. A face magra de Egídio estava coberta de barbas enegrecidas pelo tempo.

3. Já há muito tempo que Egídio se recolhera na sua cabana devido a um enorme cansaço.

4. Frei Genebro perguntou a Egídio se podia arranjar-lhe alimento para a alma.

5. Frei Genebro pensava que não era pecado alimentar o corpo com as “boas coisas da Terra”.

6. Embora tivesse fome, frei Genebro afirmou ter comido imenso, para que Egídio se alimentasse sem se sentir contrariado.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Semana da Leitura na Rede de Bibliotecas de Carregal do Sal


No dia 28 de Março pelas 9h30, alunos, professores e elementos da comunidade, estiveram presentes na abertura oficial da Feira do Livro da Rede Concelhia da Rede de Bibliotecas de Carregal do Sal. Paralelamente a esta iniciativa decorrerão actividades diversas nas escolas e bibliotecas do agrupamento cujo objectivo primordial visa promover a articulação entre ciclos, o incentivo ao prazer de ler e um maior envolvimento da comunidade em prol da promoção do livro e da leitura no concelho.

domingo, 27 de março de 2011

Semana da Leitura

I Concurso de Leitura online - 1ª fase

Frei Genebro

Nesse tempo ainda vivia, na sua solidão nas montanhas da Umbria, o divino Francisco de Assis – e já por toda a Itália se louvava a santidade de Frei Genebro, seu amigo e discípulo.
Frei Genebro, na verdade, completara a perfeição em todas as virtudes evangélicas.
Pela abundância e perpetuidade da Oração, ele arrancava da sua alma as raízes mais miúdas do pequeno, e tornava-a limpa e cândida como um desses celestes jardins em que o solo anda regado pelo Senhor, e onde só podem brotar açucenas. A sua penitência, durante vinte anos de claustro, fora tão dura e alta que já não temia o tentador; agora, só com o sacudir da manga do hábito, rechaçava as tentações, as mais pavorosas ou as mais deliciosas, como se fossem apenas moscas inoportunas.
Benéfica e universal à maneira de um orvalho de verão, a sua caridade não se
derramava somente sobre as misérias do pobre, mas sobre as melancolias do rico. Na sua humilíssima humildade ao se considerava nem igual dum verme. Os bravios barões, cujas negras torres esmagavam a Itália, acolhiam reverentemente e curvavam a cabeça a este franciscano descalço e mal remendado que lhes ensinava a mansidão.
Em Roma, em S. João de Latrão, o Papa Honório beijara as feridas de cadeiras que lhe tinham ficado nos pulsos, do ano em que na Mourama, por amor dos escravos, padecera a escravidão. E como nessas idades os anjos ainda viajavam na terra, com as asas escondidas, arrimados a um bordão, muitas vezes, trilhando uma velha estrada pagã ou atravessando uma selva, ele encontrava um moço de inefável formosura, que lhe sorria e murmurava: Bons dias, irmão Genebro!
Ora, um dia, indo este admirável mendicante de Spoleto para Terni, e avistando no azul e no sol da manha, sobre uma colina coberta de carvalhos, as ruínas do castelo de Otofrid, pensou no seu amigo Egídio, antigo noviço como ele no mosteiro de Santa Maria dos Anjos, que se retirara àquele ermo para se avizinhar mais de Deus, e ali habitava uma cabana de colmo, junto das muralhas derrocadas, cantando e regando as alfaces do seu horto, porque a sua virtude era amena. E como mais de três anos tinham se passado desde que visitara Egídio, largou a estrada, passou embaixo do vale, sobre as alpondras, o riacho que fugiu por entre os aloendros em flor, começou a subir lentamente a colina frondosa. Depois da poeira e ardor do caminho de Spoleto, era doce e larga sombra dos castanheiros e a relva que lhe refrescava os pés doloridos. A meia encosta, numa rocha onde se esguedelhavam silvados, nas ervas húmidas, dormia, ressonando consoladamente, um homem, que decerto por ali guardava porcos, porque vestia um grosso surrão de couro e trazia, pendurada na cinta, uma buzina de porqueiro. O bom frade bebeu de leve, afugentou os moscardos que zumbiam sobre a rude face adormecida e continuou a trepar a colina, com o seu alforje, o seu cajado, agradecendo ao Senhor aquela água, aquela sombra, aquela frescura, tantos bens inesperados. Em breve avistou, com efeito, o rebanho de porcos, espalhados sob as frondes, roncando e fossando as raízes, uns magros e agudos, de cerdas duras, outros redondos, com o focinho curto afogado em gordura, e os bacorinhos correndo em torno às tetas das mães, luzidios e cor-de-rosa.
Frei Genebro pensou nos lobos e lamentou o sono do pastor descuidado. No fim da mata começava a rocha, onde os restos do castelo lombardo se erguiam, revestidos de hera, conservando ainda alguma seteira esburacada sobre o céu, ou, numa esquina de torre, uma goteira que, esticando o pescoço do dragão, espreitava por meio das silvas bravas.
A cabana do ermitão, telhada de colmo que lascas de pedra seguravam, apenas se percebia, entre aqueles escuros granitos pela horta que em frente verdejava, com os seus talhões de couve e estacas de feijoal, entre alfazema cheirosa. Egídio não andaria afastado porque sobre o murozinho de pedra solta ficara pousado o seu cântaro, o seu podão e a sua enxada. E docemente, para o não importunar, se àquela hora da sesta estivesse recolhido e orando, Frei Genebro empurrou a porta de pranchas velhas, que não tinha loquete para ser mais hospitaleira.
Irmão Egídio!

Entre as frases apresentadas, selecciona a opção correcta.
1.

a. Frei Genebro era amigo e mestre de Francisco de Assis.
b. Francisco de Assis partilhava com frei Genebro ensinamentos e amizade.
c. Frei Genebro vivia nas montanhas sozinho.

2.
a. A oração permitia a frei Genebro afastar qualquer pecado.
b. A alma de frei Genebro não tinha pecado porque ele o sacudia com a manga do hábito.
c. As tentações eram afastadas por frei Genebro após longa reflexão.

3.
a. Frei Genebro decidiu ir visitar o irmão Egídio porque ele era um anjo que viajava na terra.
b. Frei Genebro decidiu ir visitar o irmão Egídio porque ele não o vi há mais de três anos.
c. Frei Genebro decidiu ir visitar o irmão Egídio porque ele morava numa cabana para estar mais perto de Deus.

4.
a. Quando chegou a casa de Egídio, frei Genebro soube que ele estaria por perto dado que a porta estava aberta.
b. Quando chegou a casa de Egídio, frei Genebro soube que ele estaria por perto dado que a sua horta estava verdejante.
c. Quando chegou a casa de Egídio, frei Genebro soube que ele estaria por perto dado que os instrumentos de trabalho estavam à vista.

Entrega as tuas propostas de correcção na Biblioteca numa folha de papel devidamente identificada.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Concurso Nacional de Leitura - fase distrital

O Concurso Nacional de Leitura tem como objectivo estimular o prazer de ler e a leitura autónoma entre os jovens do 3º Ciclo e Ensino Secundário, mediante o lançamento de provas de leitura para apurar os melhores leitores.
Este ano, a fase distrital do Concurso Nacional de Leitura irá ter lugar na Biblioteca Municipal Aquilino Ribeiro, em Moimenta da Beira, no dia 8 de Abril. Serão seleccionados os jovens que irão representar o distrito de Viseu na fase final.
Este ano, as obras para esta fase do concurso são as seguintes:

Ensino Secundário:
RIBEIRO, Aquilino - Um escritor Confessa-se;

SEPÚLVEDA, Luís – A sombra do que fomos.

3º Ciclo:
SWIFT, Jonathan – Viagens de Gulliver.

CARVALHO, Mário – A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho.

O Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal estará representado por 12 participantes, 9 alunos do 3º ciclo e 3 alunos do Ensino Secundário.
A todos eles desejamos os melhores sucessos e... boas leituras!

I Concurso de Leitura online

As bibliotecas do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal vão promover o 1.º Concurso de Leitura online, destinado a alunos dos 2.º e 3.º ciclos.

O concurso terá como objecto um conto de Eça de Queirós (na versão adaptada por Luísa Ducla Soares, para o 2.º ciclo, e na versão original, para o 3.º ciclo). Sobre este conto serão publicadas nas páginas do blogue de cada biblioteca um conjunto de questões que incidirão sobre um excerto do conto, que será também publicado nos respectivos blogues.

O concurso organiza-se em quatro fases, sendo cada uma composta por um excerto acompanhado pelas respectivas questões, que terão lugar nas seguintes datas:

• 28 de Março;

• 31 de Março;

• 4 de Abril;

• 7 de Abril.

Os alunos interessados em participar no concurso deverão ler os excertos e tomar conhecimentos das questões nos blogues da biblioteca das suas escolas e deverão, posteriormente, entregar as propostas de correcção do questionário, em folha de papel, devidamente identificada com nome completo, número e turma, na biblioteca da sua escola, até ao dia seguinte ao da publicação de cada questionário.

O vencedor de cada ciclo terá direito a um prémio.

terça-feira, 1 de março de 2011

Descobre o poema

Eis o poema escondido desta quinzena. Serás tu a descobri-lo?

Descobre o poema - Solução

Eis a solução do último poema escondido:

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.


Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
                    Luís de Camões


A vencedora da edição passada foi:

Rita Marques, 12.º A